quarta-feira, 11 de setembro de 2013

História sem título

Bem, pessoal, eu escrevi essa história com o intuito de continuá-la, mas faz tempo que não escrevo a continuação, nem tenho título para ela. Mas espero que gostem!


***

É uma noite fria e chuvosa. A lua está cheia no céu. Estou rodeada por ruas estranhas e escuras, mas ao mesmo tempo, tão familiares. Incrivelmente, sei para onde ir. Meus pés parecem estar me levando para um lugar seguro.
De repente, tudo fica branco. Vejo-me como se fosse num desenho. De repente tudo volta ao normal. Parece que cheguei ao lugar onde meus pés me levaram. É um lugar esquisito. Com bares nas esquinas, com música alta. Então todos os bares decidem colocar música alta, e o pior de tudo é que são músicas diferentes, causando uma poluição sonora. Meus ouvidos doem. A multidão, um tanto bêbada, começa se agitar, e num instante ouço a voz de uma criança:
         - Me ajude, Isadora!
Ela precisa de minha ajuda. Corro na direção da voz, mas ela parece estar vindo de todo os lados. Como se fosse um narrador. Quando acho que estou chegando perto da voz da criança, que grita cada vez mais, a multidão me empurra e quase caio no chão.
Estou na praia. Como parei aqui, não sei. Só sei que minhas pernas doem. Parece que corri muito para chegar até aqui. A vista é linda. Os barcos passam, sonolentos. Lentos. E sinto sono. Um sono incontrolável. Deito na areia, meus olhos pesam e fecham e não me lembro de mais nada.
Acordo, com pessoas gritando. “É ela!”, ouço as vozes. Não sei o que fiz. Não sei quem sou. Apenas sei que estou confusa. Estou com dor de cabeça. Não conheço aquelas pessoas, não conheço aquele lugar. Estou em meio a uma cidade. Cheia de gente. E há várias pessoas ao redor de mim, e cada vez mais pessoas chegam para saber o que está acontecendo. O terrível é que elas acabam concordando com as outras, e parecem furiosas. Uma fúria quase animalesca.
Tenho me defender.
         - Mas o que foi que eu fiz? – pergunto. Não me lembro de nada. Levo minha mão à cabeça. Está sangrando.
       - Além de não ter compaixão, é sonsa! – diz uma mulher.
       - Você sabe muito bem o que fez! – um homem cuspe as palavras com tanta rapidez que me ferem. “Não, não sei”, penso.
         - Deixar aquela menina morrer! Você merece ser apedrejada! – grita uma mulher de azul.
Então, me lembro. A menina. Ela me chamou. Ela gritou por ajuda. E o que eu fiz? Não pude fazer nada! Não é mesmo?
Tento justificar meus atos. Mas, ao mesmo tempo me pergunto se não poderia ter me esforçado mais, ter feito meu corpo reagir. Ter corrido. Uma menina, uma criança. Devia ter uns 9 anos... E agora ela está morta! Tento me justificar tanto pra mim mesma, quanto para eles, em meio aos meus gaguejos.
Ouço um urro sair de minha garganta. Um urro de dor, de culpa. Me bateram ou estou sentindo a dor de não poder voltar à trás?
Acordo, e ainda está de noite. “Fui apenas um pesadelo”, digo para mim mesma. E repito essas palavras para mim, e elas ecoam em minha cabeça.
Vou até a cozinha e pego um copo d’água. Subo as escadas de novo, mas não vou para o meu quarto. Sigo o caminho até o quarto dos meus pais, onde costumava ir quando era pequena quando tinha pesadelos. Apesar de já ter 16 anos, ainda acho conforto no cafuné de minha mãe e as palavras doces de meu pai.
Chego lá, mas não encontro ninguém. Há apenas um bilhete em cima da cama. A letra é irreconhecível. “Sabíamos que viria aqui. É seu instinto, não é? É que faria numa situação dessas. Mas você os matou, Isadora. Os matou e sabe muito bem disso.” Minha garganta fecha e tento correr. Vozes ecoam dentro do meu cérebro. “Você os matou”. Tento correr de novo, mas meus pés parecem estar grudados ao chão. “Os matou”. Quem teria escrito o bilhete? E seria verdade? Onde estão todos? Por que tudo está tão estranho? “Você os matou, Isadora”. Uma lágrima desce por meu rosto. Fui realmente capaz disso? Por que eu fiz isso? “Os matou e sabe muito bem disso.” Eu simplesmente me odeio. “Você os matou e sabe muito bem disso”. Passo quase a acreditar nessas palavras. E me odeio mais.
***
- Doutor, ela é uma humana não modificada.
- Tem certeza? - diz um voz masculina, com certo espanto.
- Sim, é. Os exames não mentem.
- Falarei com Nero e perguntarei o que faremos com ela.
- Com todo respeito, senhor, mas não acho uma boa ideia. Acho que temos de levá-la para Ivo. Porque o senhor sabe que esses exames fazem parte do processo de modificação e pelos índices ela se sairia muito bem.
- Ok, leve-a para Ivo quando acordar.
Ouço à tudo aquilo, perplexa. “Ela é uma humana não modificada”. O que ela quis dizer com aquilo? Será mais um sonho, ou realidade? Mas tudo parece tão real, mas tão confuso que não consigo saber mais o que é delírio e o que é realidade. Subitamente, o sono vem. Aposto que viram meus olhos um tanto abertos, apesar de minha visão estar turva e eu não poder enxergar grande coisa. Só seres embaçados. Com certeza eles não querem que eu saiba sobre o resultado do meu exame.
 - Esse medicamento resolverá – diz uma voz masculina.
E vejo a escuridão. 


Escrito por Taiane Sena.

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